Título: Entre Irmãos
Autor: Rafael Farias Teixeira
Editora: Multifoco
Ano: 2012
Páginas: 202
Essa é a história do que acontece com minha morte e depois dela. O que vai acontecer com todas essas pessoas agora que eu fui tragado de uma vez. Acho que se eu quisesse ser bem sincero, diria que a única participação que tive nos eventos que se seguiram foi realmente estraçalhar meu carro em um poste. Mas se falasse isso, estaria mentindo. Assim como estou mentindo falando que essa é minha história. Essa é uma história de irmãos. E minha participação é bem maior do que parece....

 

Sabe aquele livro que você pós em sua lista de leitura há muito tempo, mas que por alguma razão você não conseguiu comprar/ler ele? Essa foi a minha situação com Entre Irmãos, venho querendo lê-lo desde seu lançamento, mas, apenas duas lojas online o vendiam e o preço nunca era agradável, mas enfim consegui comprar o livro e nem pestanejei, comecei a ler e nossa! Como eu adorei a leitura do livro.

Maurício sofreu um acidente e acabou falecendo. Mas se engana quem pensa que após sua morte ele deixa de movimentar a história, a grande verdade é que após sua morte podemos ver o quanto a sua vida e morte influenciaram na vida de sua família e principalmente seus irmãos Fernando e Beatriz.
Juro que quero poder consolá-la, a Amanda. Se seu marido não fosse um grane filho da puta. Meu irmão, aquele por quem todos estão esperando. Incluindo o homem encostado em uma das paredes do corredor, que não reconheço. Observo-o, ao passar de encontro à minha mãe sentada, desfalecida, cansada. Tenho pena de todos, talvez. 
Maurício sempre foi o típico filho perfeito e predileto dos pais, ele sempre menosprezou seu irmão do meio Fernando, que para ele sempre foi um fraco, mas foi quando Fernando se assumiu gay que Maurício passou a desprezá-lo por completo. Beatriz é caçula dos três e sempre foi a intermediadora entre Maurício e Fernando, mas sempre foi uma garota sem atitudes, que viveu sobre a sombra do filho perfeito e do filho problemático. E em meio a todos os problemas familiares ainda há Ricardo um amigo de infância de Maurício que há muito não dava as caras, mas apareceu no hospital quando descobriu que Maurício sofreu o acidente, Ricardo vem para dar uma pitada de mistério à história.
— Sinceramente. Tornando uma história longa num ponto final para minha simpatia com sua causa missionária: não sei se você percebeu, mas eu sou gay. E minha família nunca aceitou muito bem a ideia — eu gargalho — e o engraçado é que, mesmo antes de me assumir, meu irmão não me suportava. E fez de tudo para que eu soubesse disso.
A história é narrada pelo ponto de Fernando, Beatriz e Ricardo. Com Fernando nos podemos ver as marcas deixadas pelo péssimo relacionamento que ele mantinha com Maurício e consequentemente com sua família que também não aceita sua orientação sexual. Mas acima de tudo podemos ver o quanto Maurício influenciou o modo como Fernando vive.
— Que porra é essa? — ele quase gritou. Seu sono praticamente sumiu.
 — O que parece? — falei sem me mover
— O que foi que meu pai falou sobre essa viadagem toda, hein?
— Estávamos apenas assistindo a um filme
— Quem é essa bicha? — ele falou apontando para meu acompanhante. — Como é que você vai trazendo esses seus amigos veadinhos para nossa casa?
Quando a história é narrada por Beatriz podemos ver que desde cedo ela luta para conseguir que o relacionamento de Mauricio e Fernando fosse melhor. E posteriormente o quanto ela tenta fazer com que Fernando volte ao seio familiar e que os mesmos o aceitem da forma como ela o aceita. Mas ao viver para fazer isso ela se apaga e deixa de viver por si, sempre tendo medo de errar.

Vou para a sala e observo tudo escuro e apenas o ressonar do meu pai no quarto do fim do corredor. Tudo foi se esvaziando. Primeiro Fernando saindo de casa na primeira oportunidade. Depois como o casamento do Maurício. Tudo quase vazio. Sento no sofá e encaro a televisão também desligada. Estou no meio de outros lugares vazios. Esse sofá já teve momentos melhores. Com os três. Os três juntos. Mas quando foi que todas as memórias boas foram trocadas pelas ruins? Só pelas ruins?

O ponto de vista de Ricardo é bem misterioso, ninguém realmente sabe por que ele resolveu voltar depois de tanto tempo, o que ele realmente quer sendo tão prestativo num momento como esse.
— Aceita algo?
— Não, obrigado.
— Então, Ricardo, o que você quer?
— O funeral do seu irmão...
— Espero que tenha ocorrido tudo bem.
— Ainda não aconteceu.
— Droga! — suspiro e sorrio sarcasticamente.
— Será amanha. Sua família tem tentado...
— Eu sei. Identificador de chamadas é qualidade de vida.
— Você os tem evitado propositalmente?
— Você realmente quer que eu fique confirmando obviedades ou prefere poupar seu tempo e ir embora logo?
Eu definitivamente me apaixonei por completo por Fernando, ele é um personagem carente de carinho e afeto, e se acha não merecedor de tais sentimentos. Ele é a prova do que a falta de amor de uma família pode fazer a uma pessoa. E isso me fez ter mais vontade ainda de abraçá-lo e confortá-lo e dizer que ele merece todo o amor do mundo.
— Eu não mereço um amor como o seu — murmuro. Deixo meu rosto cair no seu peito e choraria se soubesse como.
— Por sorte você não pode decidir o que você merece ou não. Você só pode aceitar. Seria muito ruim não poder te amar Fê.
Ricardo começou sendo um completo mistério para mim, e sendo amigo de Maurício sinceramente fiquei com o pé atrás com ele, mas com o passar da história e ao descobrir seus medos e motivações, também me apeguei muito a ele e sua lealdade é uma das coisa que mais me encantam.

Não podemos esquecer Maurício! Sinceramente eu o odiei assim que li a sinopse, e com o passar da história mais ainda, ele era arrogante, prepotente, preconceituoso e egocêntrico. E meu ódio não é só porque ele fez da vida de Fernando um inferno, mas também porque ele conseguiu ser tóxico a todos os relacionamentos que ele manteve, tanto com os irmãos, mulher e amigos.

A leitura do livro foi fluida, na verdade maravilhosa e completamente envolvente, algumas vezes o texto fica confuso porque o autor mistura pensamentos com atitudes momentâneas, mas, isso não retira nem um pouco da beleza do texto.  Eu não consegui parar de ler o livro a história é intrigante e repleta de drama fazendo você pensar e repensar no que as pessoas são capazes de fazer.

Entre Irmãos foi uma das leituras mais reais e agradáveis que tive esse ano, não como negar que história trata de forma honesta e bela os assuntos abordados, dentre eles a homossexualidade, o amor, vícios, ressentimentos e muitos outros.  A capa do livro não é a mais atraente de todas, mas quem lê o livro consegue entender que ela tem total conexão com o texto.

Eu tive uma relação de amor e ódio com esse livro, eu simplesmente AMEI tudo o que li, a forma como Rafael aborda os anseios dos personagens é simplesmente maravilhosa, mas ao finalizar o livro senti uma mistura de sentimentos fiquei aflito, desgostoso, maravilhado e curioso com o desfecho de sua obra. Esperei algumas horas após a leitura para que as ideias e sentimentos se abrandassem, mas isso não aconteceu. A falta de final definido para alguns personagens me feriu, senti que Maurício foi o único que teve realmente um final e não por que ele morreu, e sim porque ele foi desvendado. Enquanto Fernando, Beatriz e Ricardo serviram apenas como suporte da história sem receber um final merecido diante do que eles passaram com e por causa do Maurício.

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